terça-feira, 10 de julho de 2012

ANTÔNIA - 4



Pela manhã me levantei e fui a procura de emprego. Rodei as ruas até minhas pernas não aguentarem mais, mas não consegui achar nada. Eu não tinha documentos nem carta de referência, e não havia trabalhado em nenhum outro lugar antes. Estava muito difícil!
Os dias se passaram e meu dinheiro acabou. Não consegui trabalho, não enviei nada para a minha irmã, e agora não tinha mais como ficar no albergue.
Implorei para a mulher estranha me deixar ajudar a limpar os quartos em troca de lugar para dormir. Ela gritou comigo, dizendo que sem dinheiro nessa vida não se faz nada.
Naquela noite resolvi limpar os vidros dos carros no semáforo. Havia umas mulheres vendendo drogas ao lado. Não quis ficar perto, não queria confusão. Eu somente soube que eram drogas porque ouvi os comentários e muita gente chegando para comprar. De repente vieram quatro carros de polícia, ninguém teve tempo nem para piscar. Eles cercaram o local e tivemos que ficar deitados no chão. Tentei explicar que eu não tinha nada a ver com aquilo, mas eles não me ouviram. Eu estava com uma roupa velha, chinelo de borracha e cabelo preso com um elástico. Acho que eles pensaram que eu também era traficante. Pediram meus documentos, mas eu não tinha. Onde eu morava não havia documentos, tampouco a gente assinava alguma coisa, tudo era tratado de boca a boca, à base da confiança.
Tentei falar, porém eles não me ouviam.
Fui jogada dentro do porta malas do carro junto com outras duas meninas. Uma morena e outra ruiva. Olhei para as mãos de uma delas, estavam com os dedos escuros – creio que era por causa do cigarro. O olhar delas era de angustia e, ao mesmo tempo, de ódio. Pude sentir a dor delas.
Tinha a certeza de que seria solta naquela mesma noite, afinal, eu não tinha nada a ver com aquilo tudo.
A morena disse que não queria voltar para o inferno. Também não compreendi sua frase, até a manhã seguinte…
Fui lançada em uma cela. Apenas me jogaram lá e não me perguntaram nada…
Meu estômago estava doendo de fome, minha cabeça doía. Uma policial chegou perto das grades e perguntou o meu nome. Respondi Antônia. Pediu os documentos. Disse que não tinha. Perguntou sobre os meus pais, sobre a minha família, onde eu morava. Eu não tinha ninguém, apenas a minha irmã. Ela riu e saiu.
Um homem com uma barriga grande mandou me chamar. Perguntou se eu tinha advogado. Eu nem sabia o que era isso. Perguntou se eu tinha dinheiro para pagar um. Disse que não. Novamente outro riso. Ele chamou outro policial e me colocaram em outra cela; nessa, agora, havia muitas meninas. Eram sete, comigo oito. Não fui aceita lá…
- Garota, aqui quem manda é a gente. Você vai dormir no chão e comer somente o que a gente der. A partir de agora a sua comida é a nossa comida.
Enquanto a loira alta falava daquela forma comigo, as outras seis ficaram com os braços cruzados me olhando com muito ódio. Tive muito medo… me encolhi no canto da cela, coloquei os meus joelhos junto ao meu corpo e tive vontade de morrer…
Eu não havia feito nada, estava trabalhando no semáforo, queria apenas me alimentar e pagar um lugar para dormir…
Eu estava conhecendo o inferno que a menina havia falado na viatura. Eu fui apresentada ao inferno…
Naquele dia, houve uma rebelião na prisão. As presas já haviam combinado como seria. Quando as portas se abriram para tomarmos sol, todas saíram juntas gritando: “Ana é morta!”
Eu fiquei atrás, tive medo de sair, mas uma delas me empurrou com tanta força que caí no chão e machuquei o meu joelho. Olhei para o centro da quadra e uma moça de uns vinte e cinco anos estava estirada  com o rosto no chão. Todas começam a gritar:
- Hora da morte! Hora da morte!
Capítulo 5
Méuri Luiza

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