Elas batiam nas grades e faziam muito barulho. Eu não acreditei que alguém teria coragem de fazer isso… Mas fizeram. Dez mulheres em cima dela. Uma baixinha invocada rasgou pedaços da camiseta de Ana e amarrou seus braços e pernas. Ela ficou com as mãos e pés amarrados nas costas. Muitos chutes foram dados em sua barriga, acho que ela estava grávida. Levantaram o rosto dela para trás, puxando seus cabelos, e muitos socos ela levou na boca. Muito sangue era jorrado no chão. Seus olhos ficaram inchados e roxos. Percebi que ela não tinha mais força…Estava morrendo…
Comecei a chorar no canto da parede.
Queria socorrê-la, mas se eu falasse qualquer coisa, com certeza seria a próxima. Quanto desespero! Meu coração não estava aguentando ver tudo aquilo. Eu não conhecia a moça, mas, por pior que ela fosse, ninguém teria o direito de matá-la assim.
Acho que todas estavam acostumadas a ver aquelas cenas. Enquanto umas tomavam sol, outras conversavam sem nem olhar para o centro da quadra. Eu estava no desespero, vendo aquela situação. Me lembrei de minha irmã. Naquele momento, uma policial deu um grito. Com a arma em punho deu voz para todas saírem de perto da quase morta. Atrás dela vieram mais sete policiais homens, todos com as armas em punho.
As presas se afastaram e riram. Os policiais entraram e arrastaram Ana para fora do pátio. Só ouvi o barulho da sirene do carro da polícia. Creio que a levaram para o hospital.
No dia seguinte, recebemos a notícia de que Ana havia morrido. Ela não suportou os ferimentos. Realmente ela estava grávida de três meses e deixou uma filha de sete anos. Coitada da menina. Coitada da Ana! É assim que vivem essas mulheres… sem esperança e sem vida…
Trouxeram o nosso almoço. Eu estava com muita fome. Dois dias sem comer. No primeiro dia, as presas da cela comeram minha comida; no segundo, não tivemos alimentação, porque nos castigaram devido ao acontecido com Ana.
Eu nem esperei a comida chegar. Coloquei meus braços para fora da cela e alcancei a minha marmita. Nem precisei de garfo, comi com as próprias mãos, tamanha era a minha fome.
Minhas mãos ficaram fedidas de óleo, minha boca estava amarga, mas meu estomago estava forrado, minha fome passou.
Limpei-me na camiseta velha e rasgada que já estava em meu corpo há três dias. O mau cheiro dela já estava sendo exalado. Eu estava suja. Queria muito tomar um banho, mas a água é racionada e tem um gosto horrível de cloro. À noite eles serviram um mingau de arroz sem açúcar. Estava horroroso, mas eu comi mesmo assim.
Outro dia iniciou-se. Colocaram o café da manhã nas grades. Um saquinho de leite pequeno de 200ml e um pão emborrachado com margarina derretida por causa do calor.
Meu desejo era de escovar os dentes. Meu hálito estava terrível e o meu suor estava pelo corpo todo. Isso foi suficiente para uma delas invocar comigo. O olhar era estranho, parecia não ser humano. Ela se transformou e veio em cima de mim. Uma mulher de 90 kilos me pegou pelo pescoço, levantou meu corpo franzino e me jogou no chão. Com chutes na barriga foi me jogando para perto da parede. Fiquei acuada e sem reação. O medo estava estampado em meu rosto. Comecei a me encolher, tentando me proteger, quando de repente, ela saiu de perto de mim e foi para o outro lado. Ninguém esboçou nenhuma reação. Estavam conversando entre si e ali permaneceram.
Naquela noite eu chorei de tanta dor e não tinha ninguém para me dar remédio e cuidar de mim.
Me lembrei de minha mãe, que um dia, eu com dores de barriga, me fez um chá. Me colocou em seu colo e fez massagens com suas santas mãos…
Aqui somos sozinhas. Não confiamos em ninguém. Não somos amadas. Até a família de muitas presidiarias, as odeiam e as condenam.
A cela é muito pequena, deve dar mais ou menos cinco passos para a direita e quatro passos para a esquerda. Estávamos em doze meninas…
Capítulo 6
Méuri Luiza
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