sábado, 7 de abril de 2012

MARINA - CAPÍTULO 3


Um dia encontrei com aquele homem no centro da cidade, sem pensar passei para o outro lado da calçada. Não queria cumprimenta-lo. Não queria ve-lo, não queria ouvir sua voz, não queria ele perto de mim.
Insisti no namoro e começamos então uma relação séria. Felipe era muito atencioso e cuidadoso comigo.
Comecei a trabalhar para comprar meus móveis para o casamento. Consegui um emprego em uma loja conceituada de sapatos. Eu era a melhor vendedora da loja, como sempre. Em tudo o que eu fazia Deus me abençoava… eu era Dele. A dona da loja me observou e me colocou como gerente, disse que com meu empenho poderia cuidar das outras meninas. Ela nunca viu alguém trabalhar tão bem como eu trabalhava, e seguindo assim poderia cuidar das outras lojas dela quando não estivesse no Brasil. Sim porque ela viajava muito. Era uma mulher muito influente e culta. Trazia novidades lindíssimas para a loja. Tinha cada bolsa maravilhosa que combinava com o cinto e com o sapato. As vezes eu queria comprar tudo. Sempre fui muito econômica e consciente dos meus gastos, mas nesse mês gastei o que não devia. Até minha mãe achou estranho, porque eu nunca ligava para marcas e nem para coisas que combinavam. Eu gostava mesmo era de evangelizar ,de cuidar do povo. Mas sabe como é …Deus sabe que eu tenho que trabalhar e andar muito bem arrumada.
Comecei a trabalhar aos domingos pela manhã. Cuidava de duas lojas no shopping. O trabalho era tanto que mal dava tempo de almoçar. Assim sendo deixei de jejuar, Deus também sabia que eu tinha que me alimentar para ficar forte no trabalho. Imaginem uma gerente bem conceituada como eu desmaiar de fome no meio da loja…não ficaria bem. Comecei assistir as reuniões do domingo a noite.
Sete meses se passaram, e me sentia triste. Eu não sabia o motivo, mas meu coração estava triste. As coisas do meu casamento estavam prontas, meu vestido era lindo. Foi feito um vestido desenhado por uma estilista amiga minha. Tinha muitas pedrarias. Duas saias de tafetá branco com detalhes em dourado. O véu da cabeça era de quatro metros.  Quis aquele que cobre o rosto. Meu buque era de orquídeas brancas, simplesmente maravilhoso. Comprei um sapato baixo, queria conforto.
No dia da ultima prova do vestido, fui de carro. Eu havia comprado um carro, estava ganhando muito bem. No caminho fiquei ouvindo musicas bem agitadas, parece que me acalmava, eu andava meio nervosa. Deveria ser por causa dos preparativos da festa.
Cheguei na loja e a vendedora me levou direto para a costureira dar os últimos ajustes. Sozinha no provador eu chorei. Não sei porque mas chorei.  Uma dor na minha alma, não consiguia explicar. Sempre fui fiel a Deus, temente a Ele, nunca havia sentido essa dor dentro do meu peito. Não estava entendendo nada, era o dia mais feliz da minha vida e estava triste. ( antigamente o dia mais feliz da minha vida foi quando recebi o Espírito de Deus…)
A costureira fez o ajuste final. Estava tudo pronto. Eu me casaria dentre quatro semanas. Passei na floricultura para ver o restante da decoração. Comprei tudo branco e rosa. Pedi para ser colocado luzes no corredor ao lado do tapete vermelho que seria coberto por pétalas de rosas. Um violinista iria fazer minha entrada com a musica do titanic, era minha musica preferida. Fiquei perto de um ramalhete lindo de flores, me abaixei para sentir o seu perfume, passei as mãos em outras flores, tinha um toque de veludo. Um aperto na minha alma, vontade de chorar, angustia, não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém.
Felipe me ligou, estava me esperando no restaurante. Havíamos combinado de almoçar juntos naquele dia. Me despedi da florista e fui até ele. Era um lugar bem aconchegante, bonito. Como de costume pedi o meu risoto de frutos do mar, ele a carne grelhada com salada. Sempre a mesma coisa. Tomamos suco de caju bem geladinho.
Felipe segurou a minha mão e disse que me amava. Minha voz embargou na hora, eu não consegui dizer o mesmo. Olhei para ele e não senti a mesma coisa que sentia ontem. Parece que estava em dúvidas em relação a minha vida sentimental. Será que não amo mais ele? Será que é correto me casar? Porque sinto um vazio dentro do meu peito? Mas eu sabia que era  Felipe o homem da minha vida. Ele era muito carinhoso e perfeito para mim. Eu estava com uma faca em meu coração e não sabia o motivo.
Comemos a comida e voltei para o trabalho. Nesse dia arrebentei de tanto vender. Tirei o que nunca havia tirado. Em um dia de trabalho vendi o relativo a duas semanas de vendas. Eu era a maior vendedora daquela empresa. A dona me deu uma comissão muito grande. Paguei a festa do meu casamento e ainda sobrou troco para comprar uma bolsa de marca.
Fui para casa, entrei direto no meu quarto, pequei um urso de pelúcia que sempre fica em cima da minha cama e o abracei. Chorei muito. Meus olhos não conseguiam abrir de tão inchados que ficaram. Nem mesmo eu sei porque chorei tanto. Não tinha problemas, eu ganhava muito bem. Minha casa estava pronta, meus móveis todos pagos, minha festa… tudo estava em ordem, mas algo no meu coração duvidava, ardia, tinha alguma coisa dentro de mim que eu não sabia o que era.
Fui até a igreja e trabalhei na reunião. Não saiu virtude de dentro de mim, ninguém me procurou para orientação. Antes, fazia fila para eu atender. Voltei para casa, vazia e angustiada.

(Capítulo 4)
Meuri Luisa

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