quarta-feira, 11 de abril de 2012

MARINA - CAPÍTULO 4


Dois meses antes do meu casamento fiz os exames pré nupcial, já era para ter feito , mas não tive tempo, Deus sabia disso, eu trabalhava muito. Deus sabe de tudo e entende… ( era que eu achava)
Aparentemente eu estava bem, sentia algumas dores abdominais mas isso era porque não estava me alimentando no horário correto. Deveria ser gases como dizia minha avó, meu intestino era preso e eu sofria com isso.
Fui até o hospital e esperei o horário da minha consulta, seria muito rápido, era apenas para a doutora ler os meus exames. Fiquei ali, sentada perto da recepção. O hospital era particular, muita gente passando de um lado para o outro. Tinha um aparelho de televisão bem na minha frente, passava o noticiário. Uma senhora com a criança chorando o tempo todo do meu lado, um jovem com a perna quebrada esperando atendimento do seu retorno, sim porque o gesso estava todo escrito e com desenhos, então deveria ser o dia de tirá-lo. Havia uma mulher grávida, estava bem, poderia ser apenas o pré-natal. Não era hora de visitas, então as pessoas que estavam no local era para serem atendidas. Tinha um bebedouro perto da porta de entrada, eu estava com sede, caminhei calmamente até ele e me saciei.
Uma placa com sinal de proibido fumar perto da segunda porta de entrada, e outra com uma enfermeira fazendo sinal de silêncio. O chão cinza claro estava limpo, a faxineira acabara de passar com um enorme aparelho limpando. O cheiro de éter estava forte, me senti mal.  As paredes eram verde erva doce, dizem que essa cor acalma as pessoas. Do lado de fora da grande janela, tinha um jardim com plantas grandes e verdes, um senhor fazia o serviço de jardinagem, mexia com tanto carinho nas plantas e as podava, dava a impressão que conversava e conhecia cada uma. As folhas estavam vistosas e brilhantes, quando ele jogou água com uma mangueira grande dava a sensação de estar vendo o arco íris.
Vi um pai segurando sua filha, ela estava com febre, o rostinho todo vermelho. Dormia segura no colo dele. Nesse momento minha médica me chamou na sala para conversarmos. Caminhei calmamente até ela. Me pediu para sentar. Fez muitas perguntas e eu não estava entendendo nada.
- Minha querida quero repetir os exames para não diagnosticar erroneamente.
- Tem algo de errado comigo doutora?
- No seu exame consta uma anomalia que quero verificar.
Ela não me deu mais detalhes, apenas repeti todos os exames. Ficaria pronto em três dias.
Minha mãe também achou estranho, disse para eu ir até a igreja e pedir oração.
- Mãe eu não preciso de ninguém orando por mim, tenho fé, sei que Deus é grande e pode mudar qualquer situação, eu O conheço ! Sei que não tenho nada, além disso tenho que descansar um pouco.
- Marina, minha querida, o nosso coração é enganoso. Não podemos deixar o mal se alimentar e se fortalecer das emoções que ele nos oferece. Se você tem mágoa, rancor, tristezas, malícia dentro do coração, então o mal senta e se apodera de você, pois está dando para ele a fonte de energia. Da mesma forma é com Deus, quando agimos pela razão, fé. Não damos brechas para sermos enganadas.
- Mãe, eu sei bem quem sou, não preciso de orientações.
Saí com muita raiva daquela situação.
O dia do retorno chegou e a doutora Deise olhou novamente os papeis e os examinou cuidadosamente. Respirou fundo e fez uma ligação. Pediu para que eu esperasse no lado de fora.
Já estava ficando impaciente com aquilo, era só me falar o resultado e eu iria embora, tinha as lojas para gerenciar. Era quarta-feira porém como eu estava cansada não iria na minha igreja, precisava descansar, Deus entende…
Ela me chamou de novo em sua sala, sentou-se ao meu lado e segurou a minha mão.
Comecei a ficar preocupada, o seu olhar não era bom.
- Marina minha querida, vou encaminhá-la ao melhor médico que conheço, é meu amigo e sei que ele irá te ajudar.
- Por que?
- Ele irá te explicar melhor. Vamos até lá.
A doutora Deise me levou até sala ao lado e me apresentou ao doutor Tadeu. Um senhor que usava óculos e bigode, estava com um avental branco e era muito calmo no falar. Ele sorriu para mim e pediu que me sentasse. Doutora Deise me deu um beijo e saiu.
Meu coração ficou gelado porque estava tudo estranho, as pessoas estavam estranhas comigo, não estava entendendo nada. Comecei a suar.
- Marina, estou com seus exames nas mãos e a doutora Deise, minha amiga, pediu que de agora em diante te acompanhasse. Você tem plano de saúde e ele cobre todas as despesas.
- Doutor Tadeu, por favor deixe de rodeios e comece a falar o que eu tenho. Não estou entendendo nada.
- Seus exames deram alteração nas células. Isso significa que você está com câncer no intestino, por isso tem dores abdominais tão fortes. Sua perda de peso também é significante.
Fiquei sem fala…
Ele me deu um copo de água…
Me lembrei de uma senhora que uma vez chegou na igreja com câncer, eu orei nela e ela foi curada. Naquele momento eu usei a fé e ela colocou aquela bola de pus para fora. Tinha um cheiro muito forte…  Me lembrei também de um jovem que estava com a mesma doença, mas ele morreu…
- Doutor, tem certeza disso?

Capítulo 5
Meuri Luisa

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