Fui para meu quarto e lá estava uma camiseta em cima da minha cama.
Voltei para a cozinha e gritei com minha mãe.
- Você pensa que sou boba? Acha que não sei o que essa camiseta está fazendo na minha cama? Eu não vou vesti-la, nem por bem e nem por mal.
Em um ataque de fúria joguei-a no lixo.
Novamente minha mãe não abriu a boca. Isso me deixava louca, eu queria brigar com ela, mas em nenhum momento tive chance…
Quinze dias se passaram, eu e Felipe nos entendíamos muito bem, exceto em uma coisa. Várias vezes ele queria avançar o sinal, mas eu ainda não estava pronta. Ele dizia que iria terminar comigo, porque eu não dava provas do meu amor, mas ele não entendia que eu deveria estar preparada para aquele momento. Não queria que fosse de qualquer forma, queria algo especial, algo que de fato me fizesse sonhar para sempre. Eu amava meu namorado, mas ainda não estava pronta. Faltava pouco tempo para nosso casamento. Já era para ter me casado, mas como não queria mais casar na igreja, optamos por uma chácara. Por esse motivo tivemos que esperar mais um mês, porque estava ocupada. Eu amava o Felipe e queria muito viver para o resto da minha vida com ele.
Naquela semana fui apresentada a cocaína. Tato era viciado e me trouxe um pouco. Ele fez uma carreira na mesa da sala de sua casa e com um cartão de crédito acertou os lados. Ele enrolou um pedaço de papel e colocou entre suas narinas e a coca, aspirou, fez cara de quem iria espirrar e sorriu.
- Agora você.
Pensei por um instante se valeria a pena arriscar, eu não tinha nada a perder. Peguei o papel, enrolei, coloquei em meu nariz e aspirei o pó… nem me preocupei se o Felipe iria ficar bravo comigo, eu já era maior de idade.
Que sensação… nunca havia sentido aquilo…
- Quero mais !
Ele deixou eu cheirar novamente. Meu coração disparou, fiquei eufórica, a sensação de bem estar… eu estava ótima… me sentindo a tal!
Me sentei no sofá e fiquei olhando para o nada da parede branca. Vi monstros subindo e descendo. Eles olhavam para mim e davam gargalhadas. Eram monstros horrorosos. Tive medo…
Tato disse que se eu quisesse mais teria que comprar. Pensei que não seria necessário, mas durante a noite senti vontade, meu corpo pedia aquela sensação.
3:20 da manhã, não aguentava mais. Liguei para o Tato.
- Pelo amor de Deus consegue mais para mim.
- Preciso de dinheiro vivo.
– Minha mãe não vai me dar, empresta para mim depois eu te pago. Estou sem nada agora.
- Você não trabalha?
- Deixei de ir para a loja já tem um tempinho. Acho que já estou demitida de lá. Me empresta, eu devolvo. Assim que eles depositarem na minha conta eu te devolvo…
- O que você tem para me dar em troca?
Olhei para meu quarto e vi o som. Sem pensar o ofereci.
- Esse som é bom?
-Sim Tato ele é novinho, eu comprei faz dois meses.
- Espera na porta que eu levo a encomenda.
Ele chegou em quarenta minutos. Fiz a troca na porta de minha casa. Subi as escadas muito rápido. Abri o sacolé e despejei o pó na escrivaninha. Com um cartão arrumei a carreira. Fiz um rolinho de papel e aspirei… que sensação maravilhosa! Como eu não conheci isso antes… sei que quando quiser eu paro, tenho controle sobre mim…
Apaguei a luz do meu quarto e sentei no chão… demônios apareceram para mim. Muitos demônios. Eles me rodearam e me fizeram medo. Havia o cheiro de podre no ar. Fechei os olhos…senti eles me tocando. Ficaram batendo na minha perna. Eu dizia para parar, mas eles não paravam. Quando abri os olhos não vi ninguém.
Deitei em minha cama, cobri minha cabeça com o lençol. Comecei a suar, meu coração disparou… um deles disse bem perto do meu ouvido que voltaria para me buscar… não dormi naquela noite…
Resolvi falar com o Felipe, perguntei se essa sensação era real ou era coisa da minha cabeça. Ele disse que cada um tem um tipo de reação. Ele ficou surpreso em me ver usando, mas não questionou.
Perguntei se ele já usou isso antes de ser obreiro.
Ele me respondeu rindo:
- Antes de te conhecer eu nunca havia ido na igreja, só falei aquilo porque queria você. Sei que é a mulher da minha vida e não posso te perder.
Desfaleci naquele momento. Fiquei pálida e sem chão. Felipe havia mentido para mim. Foi como se uma faca tivesse sido enfiada dentro do meu peito. Pedi para me levar para casa. Entrei no meu quarto e chorei a noite toda.
Em dois meses eu fiz o que nunca fiz em minha vida toda. De tudo fiz um pouco, faltou apenas me prostituir, mas isso não aconteceu porque não estava preparada para o momento, porque se estivesse com certeza teria me entregado para Felipe.
Meuri Luiza
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