sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ANTÔNIA - 10


Havia uma tatuagem no seu braço direito que ia do ombro até o punho, até hoje eu não consegui distinguir o desenho, parecia demônios e anjos, todos juntos.
Ela parecia assustadora, mas era a única que eu mantinha algum contato. Não perguntei o motivo da sua prisão, sei apenas que não matou ninguém.
Ela ligou o rádio em músicas agitadas – ninguém reclamou.
No dia seguinte, depois do trabalho, voltei para a cela e o radinho estava ligado. Angela, gentilmente, deixou eu mexer nas estações, depois que dei a ela paçoquinha. Aqui é assim, toma lá dá cá. Tudo à base de troca.
Sentei no meu cantinho direito da cela e comecei a rodar o botão preto à procura de algo para ouvir. Umas estavam conversando e outras jogando baralho; naquele momento, eu estava ali sozinha.
Passei várias músicas, mas minha mente não queria ouvir músicas, eu queria algo mais profundo, que preenchesse aquele vazio na minha alma. Ultimamente, estava com vontade de me matar, mesmo trabalhando e ganhando o meu pagamento no final do mês. Eu estava presa, estava sofrendo, nem quando meus pais morreram tive tanta vontade de me matar!
Sabe, tenho sonhado com mortes. Não sei se é porque aqui convivo com pessoas que só falam nisso, mas dentro de mim está fluindo um desejo de morte. Sonho como posso fazer isso. Sonho com cordas amarradas em volta do pescoço, com facas sendo enfiadas na barriga. Essa noite eu sonhei em colocar veneno na comida, dar para as outras meninas e comer também. Às vezes escuto alguém me chamar, fico toda arrepiada. Tenho medo de morrer quando estou dormindo. Minhas companheiras de cela não me aceitam, querem o meu mal.
Sinto uma vontade de morrer como meu pai. Hoje eu entendo o desejo dele de subir naquela árvore e se enforcar… Estou com a mesma vontade. Existe alguém, que fica falando na minha cabeça o tempo todo, que se eu fizer isso vou ter paz. A paz que eu quero, que eu tanto desejo… Diz que vai ser gostoso, que eu não vou sentir dor…Não sei…
Continuo passando as estações a procura de algo que me preencha.
Um homem está falando pausadamente. Paro e ouço. Coloco o rádio no volume baixo e aproximo dos meus ouvidos. A voz dele é mansa…
“Que Deus abençoe a todos abundantemente! Meu amigo e minha amiga, nesse momento, em Nome do meu Deus, do Senhor Jesus, seja liberto de todo o mal que tem afligido o seu coração. Seja liberto de todo sentimento do coração. Eu determino que, nesse momento, haja a proteção do meu Deus em você.”
Ele disse que Jesus ouve a nossa oração quando falamos com fé, crendo, e que Deus não quer que soframos. Ele é real e nos dá autoridade para pisarmos serpentes e escorpiões.
Nessa hora, coloquei minha cabeça para pensar. Se eu estou nesse inferno, então não é da vontade de Deus que isso continue. Não foi Ele quem me colocou aqui. Eu posso fazer uma oração e, crendo na proteção desse Deus apresentado, posso mudar de vida.
Imediatamente fechei meus olhos. Eu não podia me ajoelhar, poderia apanhar por isso. Fiquei imóvel por um momento, desejando ardentemente aquelas palavras maravilhosas de libertação. Finalmente, estava ouvindo algo para mudar a minha vida!
Capítulo 11
Méuri Luiza

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