terça-feira, 22 de maio de 2012

MARINA - CAPÍTULO 10


A todo momento eu passava mal. Já não estava mais aguentando o sofrimento. Eu sabia que meu corpo estava deteriorando rapidamente. Minha mãe foi até o mercado e comprou melancia, eu amo suco de melancia. Ela mesma preparou para mim, com um pouquinho de açúcar, mas eu não consegui beber, apenas um gole foi o suficiente para o tormento do enjoo atacar. Assim foi por um bom tempo. Ninguém podia me visitar. Se viessem tinham que usar máscara para não me contaminar. Era um tal de leucócitos que baixava rapidamente causando o risco de infecção e provavelmente a morte. Minha mãe tinha medo que eu viesse morrer, então ninguém entrava no meu quarto, a não ser ela, meu pai e a Bá.
Três semanas se passaram após começar o tratamento. Fui tomar banho e lavar meus cabelos. Eles eram na altura do ombro, castanhos escuros. O médico disse que poderia ter queda, mas a gente nunca está preparada para isso. Passei o shampoo e depois o creme, comecei a enxaguar e ele caía de punhados em minhas mãos. Saí rapidamente e sequei-os com a toalha. Com uma escova tentei ajeitá-lo, mas eles caíam cada vez mais. Me deu um desespero muito grande… me sentei ao lado do vaso sanitário e com o rosto no meu joelho chorei em voz alta.
Minha mãe ouviu meu choro e veio correndo para meu quarto, entrou no banheiro e me levantou. Me colocou em seus braços e me segurou com toda força. Ela não poderia tirar a dor do meu coração. Não sei se essa dor é por causa do câncer, da queda do cabelo, porque não sei se vou morrer, ou é a falta que sinto do meu Deus… A essa altura já estava conversando com ela.
Em dois meses eu estava completamente careca. Nem um fio de cabelo em minha cabeça. Bá comprou três lenços para mim. Um vermelho, outro cinza com bolinhas brancas e um azul escuro com uns riscos mais claros. Meu pai me deu um chapéu muito legal. Tinha várias cores, vermelho, rosa e branco. De vez em quando eu saía para passear.
Minha mãe insistiu muito e eu aceitei ir com ela para o shopping. Foi uma das piores coisas que eu já fiz em minha vida. As pessoas me olhavam como se eu fosse um E.T. ou pelo menos assim. Umas me olhavam com nojo, outras com pena. Entrei com minha mãe numa loja e a vendedora não conseguia nos atender sem ficar olhando para minha cabeça. Eu me irritei, fiz cara feia mas não adiantou. – Você está olhando o quê? Estou sim com câncer e posso morrer a qualquer momento, está feliz agora?
Minha mãe nem comprou mais nada. Pegou meu braço e me levou para fora da loja. Fomos para casa. Como se isso não bastasse, minha boca ficou cheia de feridas. Eu não conseguia comer nada, doía muito e toda hora sangrava… ( choro )
Fui ficando muito fraca. Já não conseguia andar muito tempo. Meu pai coitado, emprestou uma cadeira de rodas para poder andar comigo pela calçada. Eu colocava o chapéu que ele me deu, e pela manhã umas sete e meia da manhã, ele andava comigo empurrando a cadeira. Ele empurrava e cantava. A música me aliviava um pouco. Ele cantava louvores da igreja. Parece que acalmava meu espírito.
Eles iam para os cultos, eu ficava em casa com a Bá. Quando a Bá ia, eu ficava em casa com eles. Não sei porque mas não tinha coragem de ir novamente para a igreja. Acho que não cria mais em Deus ou de repente tinha vergonha Dele, não sei ao certo, só sei que não ia. Sei que Deus entende isso…
Fui emagrecendo dia a dia. Fiquei muito feia. Careca e a pele se enrugando por causa da magreza. Meu olhar era de uma morta viva. A fraqueza era cada vez maior. Eu já não conseguia mais ficar sentada. Os ossos do meu quadril estavam machucando a minha pele. Para andar na cadeira de rodas, meu pai comprou uma almofada muito macia, aquelas que a gente usa para dormir no carro ou no avião. Me aliviou um pouco, mesmo assim não conseguia ficar mais do que quinze minutos na rua, tinha que voltar para casa e me deitar. Perdi as forças… já não comia mais sozinha. Minha mãe dava o alimento em minha boca… quase não tinha forças para abri-la.
Continua na próxima terça-feira

Nenhum comentário:

Postar um comentário