terça-feira, 8 de maio de 2012

MARINA - CAPÍTULO 8


Acordei com o telefone tocando. Era meu médico pedindo para ir até o hospital. No dia seguinte fui . Novos exames foram realizados, muitas perguntas foram feitas. Minha mãe sempre do meu lado… e eu não falava com ela.
Felipe ligava de hora em hora.
A cirurgia foi marcada para dois dias depois. Tudo muito rápido…acho que eu estava morrendo…
Na sexta-feira lá estava eu de novo dentro do hospital. Agora para a grande cirurgia. Eu até que estava com esperanças.
Uma enfermeira loira veio até mim, deu um sorriso e pediu que eu tirasse toda roupa. Me deu um roupão branco com emblema do hospital. Fui até o banheiro e me arrumei.
Dois enfermeiros me fizeram deitar em uma maca com rodinhas, colocaram uma touca em minha cabeça e uma agulha em meu braço, já me preparando para a anestesia.
Na sala tinha muitas luzes, muitos aparelhos. Meus olhos estavam doendo, o medo tomou conta do meu ser. Pra onde minha alma iria? Eu não estava preparada para morrer. Será que Deus podia ouvir a minha voz? Será que Ele se lembrava de mim? Ou nem me conhecia mais… sentia uma mistura de medo com revolta.
O anestesista chegou, estava com um touca verde e uma máscara, nem vi o rosto dele.
Muita gente na sala… meu médico mesmo não estava lá. Minha mãe ficou do lado de fora, não deixaram ela entrar. Eu estava sozinha…somente eu e meus pensamentos… acho que nem Deus estava comigo, mas eu sentia a presença dos demônios, eles estavam bem perto e queriam me devorar, só estavam esperando o momento, estava com medo de morrer, muito medo de morrer…
Um líquido foi colocado por aquela agulha que estava em meu braço. Senti ele subindo em minhas veias…o medo aumentava cada vez mais…meu coração disparou. As luzes começaram a escurecer, o sono veio e não consegui mais segurar…adormeci…

Sete horas se passaram e eu acordei. Eles estavam fechando a cirurgia com pontos. Senti o médico me costurando. Ponto a ponto. A anestesia havia acabado e eu acordei antes do tempo. Um alívio…estava viva. Ouvi pessoas conversando, minha mente não estava conseguindo discernir as palavras. Eu ainda estava sob efeito dos remédios, mas os demônios continuavam ali… do meu lado. Vi um como vulto preto, cheiro de podre, calor…meu coração novamente disparou. O desespero tomou conta de mim. Não conseguia falar, não conseguia gritar, meu corpo ainda não respondia, só meu coração disparava…
Um tempo depois me levaram para um quarto. Sete demônios ao redor da minha cama, eu os contei. Ainda não conseguia me mover, fiquei assim por umas quatro horas. Apenas soro era meu alimento. Eu ficava olhando o teto do quarto. Tinha algumas rachaduras, as lâmpadas eram grandes e bem claras. Uma delas estava queimada, tinha oito ao total mas somente sete estavam acessas. Eu sentia frio, uma das janelas estava aberta. Fiquei em um quarto junto com outra menina, também vítima do câncer. Ela já estava na segunda cirurgia, o mesmo caso que o meu, câncer no intestino. Eu não estava vendo ela, porque não conseguia me mexer mas sabia que estava sentindo dores. Ela gemia o tempo todo, e dizia que não aguentava mais.
Ela xingava muito, falava palavrões e estava revoltada. Vi outros demônios ao seu redor, eles riam muito e parecia que estavam esperando por sua alma. A mãe dela estava perto, sofrendo junto.
Minha mãe chegou e me deu um beijo. Passou as mãos pelos meus cabelos. Quando ela chegou perto de mim, senti paz… eles saíram, foram embora. Ela viu que eu estava com frio e fechou a janela. Tinha um cobertor aos meus pés, ela me cobriu. Consegui me aquecer.
A noite foi longa. Toda hora tinha uma enfermeira me aplicando remédio. Eu achava bom porque assim não iria sentir dor, mas ficava com a cabeça pesada e parecia que tinha um zum zum no meu ouvido, eu me sentia dopada o tempo todo, meus olhos não conseguiam fixar em nada, eu não tinha controle sob o meu corpo. O desespero começou tomar conta de mim, queria ir para casa, queria estar bem, queria somente queria, mas eu não podia… comecei a chorar, as lágrimas caíam no travesseiro e nem limpar meu rosto eu tive condições…que ponto cheguei…

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