sábado, 14 de abril de 2012

MARINA - CAPÍTULO 5


- Infelizmente sim, você deverá começar a quimioterapia, mas antes vamos fazer mais alguns exames para realizar uma cirurgia que é
o tratamento primário para o câncer de intestino, retirando a parte afetada. Após a cirurgia, a quimioterapia é utilizada para diminuir a possibilidade da volta do tumor. Quando a doença já está espalhada pelo corpo ( fígado, pulmão ou outros órgãos), novos medicamentos impedem a progressão do tumor e possibilitam aos pacientes viver por mais tempo, com qualidade de vida. Felizmente você está no início da doença por isso as chances são grandes de recuperação.
- Que qualidade de vida uma pessoa com câncer pode ter?
Eu sempre fui muito usada por Deus e agora estou nessa situação. Liguei para minha mãe assim que saí da sala do médico. Chorei muito no saguão do hospital. Não tinha condições de dirigir. Minha mãe, coitada, veio de taxi e me acompanhou até em casa.
Fui para meu quarto e fechei a porta, ali eu chorei copiosamente porque não queria morrer. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo.
Minha mãe ligou para o Felipe, que de imediato veio para minha casa.
Eu ainda estava no quarto quando ele entrou, sentou-se em minha cama junto com minha mãe e me abraçou. Continuei a chorar. Eu não tinha fé para ser curada. Não sei o que aconteceu comigo. Deixei de acreditar em Deus e nem sei quando isso aconteceu. Meu mundo desmoronou, minha mente ficou vazia, não sentia mais o meu corpo. Um sentimento de revolta e ódio tomou conta do meu ser. Como Deus poderia deixar isso acontecer comigo sendo que sempre fiz a Obra Dele?


Felipe ficou revoltado. A todo momento me perguntava como Deus pode fazer isso comigo, afinal eu era fiel a Ele!
Eu já estava com meu coração tomado pelo ódio. Felipe me disse:
-       Vou te ensinar a viver…
-       Como assim? Eu vou morrer…
-       Não vai não ! Eu prometo. Você vai conhecer o outro lado do mundo. O meu mundo, aquele que eu vivo e conheço, sei que vai gostar muito.
Naquela noite ele me levou para conhecer uma balada. Foi massa! Eu amei. Muitas luzes, achei super legal. Nunca tinha bebido nada de álcool… nessa noite eu bebi, achei muito, muito 10! Por alguns minutos eu esqueci que iria morrer.
As luzes da danceteria estavam apagadas, apenas os refletores com luzes azuis e vermelhas estavam reluzindo em direção ao centro do salão. A música era eletrônica e muitíssimo alta. Pedi ao barman um drink. Um copo alto com muito gelo, os copos dessa balada são bonitos, esse tinha detalhes, ficava mais fácil de segurá-lo, assim com a mão suada não haveria perigo de escorregar. Eu estava muito suada, dancei além da conta. Nem sabia dançar quando cheguei, mas o Felipe me ensinou. O experiente barman começou a fazer sua demonstração, fiquei lá, bem pertinho vendo tudo.  Estava hipnotizada com ele, é simplesmente maravilhoso. Pegou uma garrafa com rótulo branco e começou a girar em volta de sua cabeça, fazia caras e bocas. Uma outra transparente, pinga em outra mão, fazendo as duas rodarem em volta de seu corpo. O mais impressionante é que nenhuma delas foi ao chão.
Deixou as duas garrafas em suas mãos e em uma altura de uns 50cm as deitou de forma que o líquido caísse no copo ordenadamente. Deixou encher até o meio do grande copo, puxou as garrafas tão rapidamente que não consegui ver a bebida parar de entrar no copo…impressionante sua habilidade. Eu estava amando aquele lugar. Queria voltar mais vezes, assim poderia beber e esquecer meus problemas. Felipe sabia viver…
Muito gelo foi colocado em outros dois copos, agora azuis, um se encaixava no outro. Ele fez uma graça sambando como se fosse possível ouvir o barulho das pedras batendo nas paredes do copo, com a altura da música era impossível, mas a sensação de saber que isso estava acontecendo ele conseguiu. Separou os copos azuis e adicionou uma bebida vermelha. Eu queria aprender dançar o samba naquela noite.
Felipe me deu um sorriso, retribui com outro, pois estava vivendo a vida agora. Já que vou morrer que eu morra feliz.
Sua apresentação continuou. Equilibrou uma garrafa pequena em seu braço direito, no esquerdo havia outro copo. As vezes eu olhava para ele, outras vezes prestava atenção no movimento. Muita gente estava dentro daquele local pequeno. O cheiro do cigarro me deu um pouco de enjoo, mas logo me acostumei. Felipe pegou o drink para mim, sentamos em um sofá perto da porta. Ele me beijou como nunca antes. Eu estava apaixonada e querendo curtir a vida. Felipe estava me ensinando. Nem me preocupei com o que minha mãe iria falar, sua opinião já não me importava.
Fui até o banheiro, vi uma menina cheirando cocaína. Na hora tive vontade de experimentar, mas tive a sensação de que alguém estava me olhando. Senti medo, parecia que muitos olhares estavam sobre mim. Me olhei no espelho, minha maquiagem estava borrada. Uma garota de minissaia me ofereceu batom. Vermelho sangue, sim o batom era vermelho sangue. Agradeci e aceitei. Quando usei-o em minha boca, não me reconheci. Senti um vazio tão grande dentro de mim que parecia com um abismo sem fim. Tive a impressão de que Deus estava me olhando… parecia que Ele estava pesando seu olhar sobre minha cabeça. Fiquei mais revoltada ainda. Corri para o centro do salão e diante daquela música terrivelmente alta eu gritei:
- Não tenho medo de você! Eu não acredito em você! Eu te servi e agora tenho câncer! Não preciso de você em minha vida!
Felipe chegou perto de mim, me abraçou e dançamos a noite toda. Eu já estava muito bêbada quando voltei para casa…

Capítulo 6 
Meuri Luisa

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