terça-feira, 24 de abril de 2012

MARINA - CAPÍTULO 6


No outro dia minha cabeça doía muito. Me levantei por volta das 14:00 horas, minha mãe não estava em casa, estava na igreja evangelizando. Esse era o horário que eu sempre saía para entregar jornais e falar de Jesus…
- Eu não consigo falar com Ele. Dá a impressão que não tenho mais perdão, que para mim não tem mais jeito.
Fui até o armário e peguei um analgésico para minha terrível dor de cabeça. Vi vários tipos de remédios tive vontade de tomar todos. Senti um desejo enorme de me matar…
Uma voz dizia muito sutil no meu ouvido que eu não tinha mais salvação, se eu me matasse aquela angustia sairia e eu seria feliz. Minha dor iria acabar no exato momento que eu morresse…
Peguei uma cartela de remédio para emagrecer que já estava lá no armário há muito tempo, uns dez comprimidos para dor de cabeça e água sanitária. Com uma colher despedacei um a um, até vivarem pó. Misturei todos eles em um copo e adicionei água sanitária. Sentei na janela do meu quarto que dava de frente para um canteiro muito lindo com flores do campo que minha mãe pediu para o jardineiro plantar. Fiquei com aquele copo nas minhas mãos… a cada segundo a voz falava mais alto para eu beber pois minha vida seria outra, meus problemas acabariam, mas eu tinha medo, muito medo… nem sei de que eu tinha medo, mas estava completamente aterrorizada com aquela situação.
Meu coração estava tomado pelo ódio, a mágoa de Deus era muito grande. Como Ele pode fazer isso comigo? O que eu fiz para me crucificar dessa forma?
Andei de um lado para o outro do meu quarto e estava decidida a beber o veneno quando o telefone tocou. Levei um susto tão grande que o copo se despedaçou no chão… Era Felipe, disse que queria que eu conhecesse alguém.
Muito bem, pedi que entrasse. Na sala de casa ele me apresentou alguns colegas. Pessoas estranhas porém muito legais. Ana, Paula, Nenê, Tato, Carol e Bia. Fizemos pipoca e assistimos um filme. Eles haviam passado em uma locadora e o alugaram. O vazio continuava dentro de mim, mas a presença deles me fazia rir um pouco.
- Tem cerveja? Me perguntou Felipe.
-Não.
- Eu disse que aqui não tem isso. O povo é muito careta.
- Marina você tem que aprender viver. A vida que você leva é muito chata. Depois do filme vou te mostrar algo muito manero.
- Paula , eu gostaria de ficar em casa, estou cansada.
Todos deram gargalhadas e Felipe disse que era para eu ir senão eu seria a namorada mais chata que ele já teve.
Eu não queria ser a namorada chata do Felipe, então subi para meu quarto e me arrumei.
Ana subiu depois e quando me viu com uma calça jeans e uma camiseta rosa com flores disse que eu não sabia me vestir. Abriu meu armário e tirou um calça de sarja branca. Perguntou onde tinha uma tesoura e a cortou, fez uma dobra na barra para não precisar costurar. Sim ela cortou minha calça nova de sarja e fez um shorts curto. Eu nunca havia saído com shorts, mas quando o coloquei me senti bem. Parecia que aquele era o meu mundo agora. Pegamos então uma regata ( que eu costumava usar por baixo de outras blusas), um tamanco de salto alto e muitas bijuterias. Ela fez um rabo de cavalo em meus cabelos castanhos escuros, pintou meus olhos de preto e me fez olhar no espelho.
- Incrível ! Estou muito bonita ! Amei a produção. De agora em diante vou me vestir assim.
Quando desci as escadas, Felipe ficou maravilhado.
- Uau!!! Que gata !!! Essa é a Marina que eu gosto.
Senti uma mistura de remorso com desejo de conhecer esse mundo novo.
Nessa tarde fomos para um shopping. Assistimos outro filme e depois entramos em uma lanchonete. Tinha música ao vivo e muita bebida. Eu não queria sentir dores de cabeça novamente, por isso disse que não iria beber nada de álcool, queria apenas um suco.
Novamente muitas gargalhadas… fiquei tão constrangida que pedi a mesma coisa que todos, cerveja, muita cerveja…
Eu não sabia mas Felipe fumava. O cheiro da fumaça do seu cigarro e de todos ali em volta me fez tossir muito, eu ficava sem ar a todo momento… eu nunca vi meu pai fumar, em minha casa nunca entrou cigarro ou bebidas alcoólicas…
Uma semana se passou e eu não me reconhecia mais, nem por um momento me lembrava que um dia fora de Deus.
Deixei de falar com minha mãe, estava muito revoltada com tudo e não queria amizade de ninguém daquela casa, apenas dos meus amigos.
Abri meu email e vi a foto linda de uma rosa amarela. Felipe estava me convidando para sair, eu só não entendi o que tinha haver com a rosa.
- Quero te apresentar ao maior desenhista que já conheci.
- Você tem amigo desenhista? Que tipo de desenho ele faz?
- Você vai amar !!!
Felipe me levou com seu carro até uma loja muito colorida. Era a loja do Dudau. É um apelido esquisito, todos o conhecem assim, mas o seu verdadeiro nome é Claudemir. Ele é um excelente tatuador.
- O que estamos fazendo aqui?
- Vou fazer uma tatoo, queria que me acompanhasse.
- Tudo bem, fico aqui ao seu lado.
- Você não entendeu… quero que faça uma rosa amarela em seu pulso, vai ficar lindo…
- Eu? Nunca pensei em fazer isso…mas confesso que estou tentada em colorir meu corpo.
Pensei um pouco, olhei outros desenhos, fiquei indecisa por um momento.
- Pronto, já decidi.
- E aí, qual vai ser?
- Quero a rosa amarela, vai ficar linda mesmo…
Naquela tarde eu apareci em casa de shorts, camiseta decotada, maquiagem escura e tatoo. Minha mãe quase enfartou, percebi isso no seu olhar, porém nenhuma palavra saiu de sua boca…

CAPÍTULO 7

Meiri Luiza

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